terça-feira, 30 de junho de 2009

Memórias gastronômicas

Acho que minha dedicação/devoção a gastronomia amadora vem em grande parte por responsabilidade de papai e de vovó. Ambos fizeram o bom (por vezes, mau) serviço de associar sentimentos a alimentos ou sabores.

Minha vó, dona Lais, a Dona Benta em pessoa reencarnada melhor ainda, nunca servia uma comida na panela. Sempre em travessa, cuidado que já mostrava o quanto o momento de comer era caro para ela. No café da manhã, ela esquentava o leite na leiteira (claro!) passava numa peneirinha de metal e "temperava" com achocolatado. Essa coisa de beber durante as refeições ela não gostava não. Talvez até por isso o leite vinha tão quente que só conseguíamos tomar ao final do pão e, mesmo assim, ela fazia marcação cerrada para que não tomássemos muito leite durante o café da manhã. O pão na torradeira de cabo elétrico de pano vinha torradinho de forma desigual, só com manteiga e cortado em quadradinhos, charme memorável da vó mais delíciuda da paróquia. Daí íamos brincar.

Em cima da mesa da sala, convidativo, o pote de cerâmica que ela mesma pintou com uma paisagem invernal, abrigava as também mais-que-memoráveis balas de coco pedaço de céu. Gente o que era aquilo... envolto em uma nuvem mística - só ela conseguia fazer... Era só encostar no pote que, da cozinha, minha vó gritava "só depois do almoço". Não havia plano infalivel que possibilitasse abrir o pote sem produzir ruído. O mais avançado sistema de vigilância não chega perto...

No almoço, sempre arroz, feijão, uma verdura refogada, um picadinho gostoso daquele com aquele caldinho ou as melhores almondeguinhas (minúsculas, Senhor!) com molho de tomate caseiro do mundo. Mas, claro, antes, para abrir o apetite, ovo mole na canequinha de alça quebradinha. Já ela sempre comia, para acompanhar, salada de tomate com maionese. De sobremesa, alguma das especialidades: rocambole de doce de leite (teve um aniversário meu que ganhei, tanto que eu gostava, um desse de presente só pra mim), bolo de laranja ou de chocolate, sagu, arroz doce, maria mole, sorvete (que ela adorava), etc. tudo isso regado a muuuuuita bala de coco.

Família de gordinhos... não imagina!!! Almoço de domingo na minha vó... vai imaginando... vê a foto aí pra visualizar...

(Ai, gente, muito anos 80...)

Meu pai, capítulo a parte, fica para a próxima postagem...

(Quando fizer um blog sobre educação, a grande homenageada será minha mãe, grande responsável por esse tema ser tão presente e recorrente para mim.)

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